terça-feira, fevereiro 28, 2006

Tempo tempo tempo tempo


"É verdade... agora reparo que eu fui a primeira a fazer a pergunta indiscreta "who are you", como a lagarta no conto da Alice; e que hoje a pergunta me foi devolvida; quem sou eu."
E eu Fokas, vejo e revejo o Tejo que desagua calmamente no Oceano, à bolina... Tal como nos tempos do Fernando seja ele lá quem for! Eu sei que é um anacronismo e sobretudo uma estupidez que nos ilude duma juventude que já não existe e que nos impede de sermos responsáveis, de reflectir correctamente sobre a condição humana, sobre a vida e sobre a morte. Mas não consegui acordar a minha filha para o almoço dos 75 anos da avó!
Vou reler mais uma vez o Nobert Elias!
Mas para quem anda de férias não se esqueçam de ir até Granada...Antes que seja tarde!

sexta-feira, fevereiro 17, 2006

Querido poeta

Frankfurt, 8 de Novembro de 1963.
Tomzinho querido,
"...Conversei muito com o João ao telefone( ele está no mesmo hotel de Susana em Paris) e fiquei mais quatro dias em Roma, gastando um dinheirão à espera dele, que me prometeu viria de qualquer modo"Vininhas, não saia daí não rapaz!Ih rapaz eu preciso demais falar com você!" . (O gajo claro que não apareceu!).

Um dia se tiver tomates ainda vou investigar a ligação telúrica da Medicina com as Letras. Mas confesso que o tema dava insónia. Pega pois na Parker 51 que te deu o teu avô e manda brasa nesse blog algarvio! Eu fico por aqui a tomar conta do escritório!

Que o mundo compreendeu e o dia amanheceu em Paz...

A ausência é uma coisa terrível e pouco ou nada há a fazer contra ela. É um amor que não passa, esse de pai. Vontade de nascer de novo e educar os filhos de novo. Deixar de ser o zé.
Eles desligam apenas os telemóveis e não se dão conta que viemos de uma geração angustiada, errada na sua formação e que teve que descobrir quase tudo por si mesma, deixando sangue e alguns dos nossos melhores pedaços espalhados pela rua.
Ou como dizia o Vinícius... descobrir que o difícil para um homem não é encontrar a sua mulher, é encontrar a sua viúva.., e que belo prazer voltar de novo a ler o Eloy com o seus ataques de seborreia. Maldito judeu que merecia ser excomungado!
Saudades, abraços e ternura.
E para vocês dois, os mais novos... moderação nas boates e nos copos , please!
Pai

sexta-feira, fevereiro 03, 2006

Itapuã cobre o mundo baiano:o resto do território é livre!



Aprendi com o António a entender que o cheiro a borracha queimada e o da gasolina não são os unicos nem os melhores cheiros do mundo.

Nasci em Lisboa, assumo o meu passado mouro e andaluz e ainda não perdi um festival islamico em Mértola...Andei mesmo uns meses sem grandes progressos a aprender árabe.

Mas ALÁ AK BAR, EU HOJE SOU TAMBÉM DINAMARQUÊS!

quarta-feira, fevereiro 01, 2006

Auto-de Fé




Ontem conheci um Prof. daqueles que eu gosto. Um Prof. a sério! Leitor de Português em Budapeste, traduziu Imre Kertész, Nobel de Literatura para as nossas delícias turcas de iletrados caminhantes...

Tive a sorte de conhecer um húngaro na minha vida. Falei sempre com o meu chefe em francês... era a nossa "langue coupée" num escritório onde todos falavam alemão. Foi com ele que aprendia a gostar da Hungria, das amantes italianas e das óperas de Vienna. O pai refugiado, veio como médico reumatologista do regente, com o filho mais novo, viver no Estoril, claro! Muitos anos mais tarde na ilha da Madeira fui visitar o mausoléu do último dos Habsburgos. A Europa Central tinha deixado de existir. Ficavam os mortos das duas guerras mundiais e os satélites do império soviético.

O meu chefe, que já era nessa altura um amigo, contou-me uma longa história.... tinha trabalhado na Rádio Europa Livre, tinha sido feito prisioneiro desde a batalha de Budapeste, tinha fugido, e jurou que nunca mais voltava à Hungria... mas voltou muitos anos depois e tempos depois foi prestar a sua homenagem ao último imperador do Império Austro-Húngaro sepultado na ilha da Madeira. A Europa Central sempre foi um mistério para mim. Vienna era o "fin de siécle"! ...Freud, Klimt, Kafka... Elias Cannetti, judeus de todas as nacionalidades e cores. Hiddish e sefarditas.....(Ainda há pouco tempo ofereci antigos selos do Imperador Francisco José com o carimbo da Bosnia-Hersegovina a um a amigo que estava em Belgrado durante os bombardeamentos da Nato). Conheci depois uma versão mais recente das actalidades francesas... Lembro-me de uma noite no Porto. Numa pensão modesta....com rakia e muitos enchidos que não dispensaram as francesinhas para o pequeno almoço... Não dormimos, ou pouco, de manhã fomos apanhar o comboio do Douro. Bebemos umas cervejas para acordar...e no Pinhão...já não me lembro...foi dificil arrancar de lá. O Stefan e a sua mulher sérvia.., opositores de Milosevitsht( Nem eu sabia que o dito Marechal Tito era Croata, nem sonhava com o que se iria passar alguns meses depois... ouvi apenas). Nunca fui aos Balkans...mas tenho um fascinio enorme pela sua história e pelas pessoas que eu conheci por aqueles lados. ... Há poucos tempo, em Marko Turnovo, fui visitar o museu (evidentemente...não existe mais nada para ver por ali) e ouvi falar... vi documentos, fotografias de famílias, dos massacres do levantamento búlgaro contra os turcos. ...A vida é assim... Falei do Kosturica e ninguém achou graça... Quero voltar um dia destes aos Balkans, a Thesalónica com o meu amigo Corto Maltese.... desta vez para falar de coisas mais sérias... É deste império austro-húngaro que eu vi os restos...os versos do Rilke, os massacres nas fronteiras de Trieste....os milhões de mortos e refugiados de sonhos que ainda podiam escrever sem uma decisão judicial em contrário, onde ainda era possível amar nas praias do 28 ( não me lembro do número do vaporetto....)

Nunca fui a Budapeste... mas quero ir! Li o Chico Buarque como todos aqueles que gostam de novidades...mas de repente caiu-me na mão um livro fabuloso, "As velas ardem até ao fim", dum tal Márai Sandor. Fiquei fascinado, quis ler depois outros autores húngaros. Havia um triologia arriscada... Comecei pelo do meio"A Recusa" e depois não parei. Um dia destes vou conhecer Budapeste da mesma maneira como conheci o tal Prof. que vos falei e achei graça ao seu bigode farfalhudo!

Para já fiquei com a Antologia da Poesia Húngara que vou ler e uma dedicatória engraçada.