quarta-feira, junho 28, 2006

Chance de Aladim


"Se canto sou ave, se choro sou homem
se planto me basto, valho mais que dois
quando a água corre , a vida multiplica
o que ninguém explica é o que vem depois"

Acabei de ver e ouvir o Ney na entrevista que deu com a Ana Sousa Dias. Ainda não tinha falado dele neste blog. Não sei porquê...talvez por ser óbvio que o Ney era um dos meus heróis mais antigos e provavelmente um dos mais interessantes intérpretes brasileiros que até hoje conheci. Tenho acompanhado a sua carreira desde há muitos anos. Dos Secos e Molhados ao Coliseu, no Pavilhão Carlos Lopes, na Expo, em Cascais...
Não conhecia "O caçador de pérolas"...esse disco apareceu na minha vida mais tarde .
Sereno e com alguma tosse, mas sempre lúcido e acutilante, Ney é um dos melhores profissionais vivos da MPB que continua a recusar qualquer atestado de validade! O Brasil morno e ingénuo que vai ficando no caminho... o mundo um vai ser dia brasileiro! Pela beleza do que aconteceu há minutos atrás...

terça-feira, junho 27, 2006

A casa da Joaninha

"Luís Augusto, filho único, ficara com todos os haveres do pai, importantes, entre os quais se contavam a casa e a quinta do Vale de Santarém. Um mês depois da morte do pai, Rebelo da Silva pediu a Herculano e a mim para que o acompanhássemos a passar uns dias na sua propriedade. Herculano, como muito entendido em coisas agrícolas, devia esclarecê-lo, indicando-lhe os meios de tirar maiores vantagens da quinta.
A viagem no vapor era tardia, mas agradável; quase sempre concorrida e animada. A primeira paragem dava-se em Alhandra, a segunda em Vila Franca de Xira, seguia-se Vila Nova e depois o Carregado. A travessia pela vala, à sirga, muito demorada e monótona; mas lá vinham umas margens bordadas de freixos e salgueiros; as batardas, atravessando com o voo descansado e a envergadura enorme; as bandadas de patos bravos no Inverno e de mancões no Verão; os pertos e longes da campina; os toiros ruminando no ervaçal, mansos, sem sombras de aspecto minaz, como se lhes não corresse no sangue a nativa ferocidade; e o campino, com o seu cavalo e a sua vara".

Bulhão Pato, Monte de Caparica, Torre. Fevereiro 16, 1893.

Ando envolvido num tempo que não é o meu. Uma personagem que nunca conheci e que viveu num mundo hoje inteiramente desaparecido onde ainda não existiam comboios em Portugal. Cheguei a encruzilhadas tramadas...Tive que mudar de comboio em Belgrado e fui parar algures ao mar...Não sabia falar alemão, a única língua estrangeira que se podia falar nas estações onde me perdera. "Wie fill kostet eine gebratanes...porra era frango, não era cão que eu queria. Nada feito, nem cão nem frango...
De regresso acabámos por descobrir uma lata de salsichas no fundo da mochila... a última à dentada partilhada entre cinco. Sentei-me no banco das mulheres porque era o único sítio onde havia um lugar livre e tive vários pares de olhos sobre mim a dizer que não era tão simples...
Ainda não havia Kusturica. Só entendi o que era a ex-Juguslávia muitos anos mais tarde quando vi "O pai foi em viagem de negócios". Ainda não havia mortos na Bósnia nem capacetes azuis. Peguei na "Insustentável leveza do ser" e resolvi deitar-me no corredor no local reservado às bagagens. Dormi assim a noite inteira dos Balcãs até à Grécia...
Au début de 1977 j'etait toujours sans travail e toujours inconnu...
Mas foi este facto entre outros que me levou a optar definitivamente pela História e hoje a interessar-me pela casa da Joaninha.

segunda-feira, junho 26, 2006

Uma final em Português

Depois de uma valente carga de porrada nos Holandeses, a selecção desta vez no mundial sai com dois cartões vermelhos. Contactado o Vinícius em Itapoã , o Fernando no Chiado, faltava o acordo do Carlos para uma final em Português. Acordo assinado. O Brasil trata dos árbitos e nós vamos dando até ao último vermelho existir!
Os brasileiros jogam e marcam golos com o gordo do Ronaldo. Nós iremos armados até aos dentes para o jogo com a Inglaterra.
As palavras ainda trazem o ranço de alguma literatura. Concordo com o Chico: Nunca mais poderemos falar a mesma língua. Posted by Picasa

sábado, junho 24, 2006

A face é a alma do corpo.



Para além de todos aqueles de que me vou lembrando... conheci há uns anos em casa de um amigo de infância e ainda hoje frequentador habitual dos jantares desta casa, o L. Wittgenstein.
Era um mundial qualquer, casa cheia, queijos e vinho na mesa, "chacun que se governe"...conversa de bola! Não se podia pedir melhor...
Não me lembro do jogo, mas de uma conversa tão estranha e tão interessante com o Ludwig sobre fragmentos que não resisto a reproduzir alguns:
"A solução dos problemas filosóficos pode ser comparada com um presente num conto de fadas: no castelo mágico ele parece encantado mas se olhar para ele do lado de fora à luz do dia não é nada além de um pedaço de ferro ordinário (ou algo do tipo)".
"A linguagem prepara para todo mundo as mesmas armadilhas; ela é uma imensa rede de fáceis e desvios errados. E assim assistimos um homem após outro que anda pelos mesmos caminhos e sabemos com antecedência onde ele se irá desviar para fora, onde caminhará direito sem notar o desvio lateral, etc. etc. O que eu tenho que fazer, é erguer sinais de trânsito em todas as junções onde há desvios errados de modo a auxiliar as pessoas a passar pelos pontos perigosos. "
"O poder da linguagem de fazer tudo parecer o mesmo, que é mais claramente evidente no dicionário e que torna a personificação do tempo possível: algo não menos notável do que poderia ter sido a transformação de constantes lógicas em divindades."
"Eu penso que resumi a minha atitude em relação à filosofia quando disse: a filosofia realmente deveria ser escrita apenas como uma composição poética. Deve, parece-me, ser possível apanhar daí o quanto o meu pensamento pertence ao presente, futuro ou passado. Pois eu estava a revelar-me desse modo como alguém que não pode fazer exatamente o que ele gostaria de ser capaz de fazer."
Não sei quem ganhou o jogo... Deixámos o L. na estação de Cambrigde, onde tinha um quarto alugado, mas com a certeza de que um dia destes nos voltariamos a encontrar! Nem vale a pena dizer que era outro judeu austro-húngaro que combateu na 1ª Grande Guerra pelo Império e na Segunda, já nacionalizado inglês pelas tropas britânicas...
O "Caderno Marron" existe em português e viaja ainda hoje frequentemente entre a Caparica e Lisboa...

sexta-feira, junho 23, 2006

Noites de Verão ao luar

Descobri por acaso na Net uma página diferente que vale a pena espreitar. Conta assim: "Na serra da Peneda, as noites de lua cheia desvendam um mundo animal cheio de vida. Se por um lado as noites sem lua não nos permitem movimentar-nos sem a ajuda de uma lanterna, a claridade do luar dá-nos a facilidade de podermos andar sem necessitar de qualquer iluminação extra.
Aquilo que vos propomos é que venham, na nossa companhia, descobrir o território do Lobo na sua hora de maior actividade. Vamos sair ainda de dia e seremos surpreendidos pelo luar já em plena serra.
Os passeios podem ter várias componentes: Viver uma noite plena de novos sons e sensações, aprender a identificar as estrelas e constelações, observar as manadas de cavalos em liberdade, jantar na serra e ouvir as histórias de lobos e contrabandistas, aprender como os arqueólogos fazem as leituras de gravuras rupestres e quem sabe cruzarmo-nos com o vulto fugaz de algum lobo curioso". São aquele casal de "malucos" Anabela Moedas e Pedro Alarcão ambos jornalistas, que fizeram um dos programas mais interessantes que passou na televisão sobre “a Vida secreta dos Lobos”, que a RTP passou pela primeira vez em Fevereiro de 2005. ( Nós por cá...iremos na primeira oportunidade)
Para mais informações http://www.ecotura.com/Posted by Picasa

Coincidências


Encontrei o Viegas na feira, disse-me ela...
Quem?...O do Algarve?
Não! O de Manaus!

quarta-feira, junho 21, 2006

Mares do Sul


Regresso devagar à procura das palavras perdidas. Que grande é o rio da minha aldeia...

terça-feira, junho 20, 2006

Quinta sem lágrimas

Voltei a Coimbra muitos anos depois.
A cidade cresceu como nós... o Mondego estava lindo, brilhava com um sol radioso....
Voltei a entrar na biblioteca joanina.
Desta vez sem ti, sem os meus pais, mas acompanhado com a mesma alegria que ainda nos faz sentir vivos... apesar do Dr. Miguel Torga não aceitar mais consultas!

E sempre que quiseres... já sabes! Levo-te outra vez ao Castelo de Montemor ver "Os Bichos !

domingo, junho 04, 2006

Um outro olhar do olhar

Os amores podem viver escondidos toda a vida. Como aquele que ligou o Prof. à aluna para sempre. Hanna foi talvez a mais brilhantes delas, na qual depositava a sua confiança e o seu orgulho muito alemão.
O julgamento de Heichmann foi apenas um momento de reflexão sobre o totalitarismo e o mal. Apenas isso.
Mas todos sabemos como as palavras são perigosas...
O saber obriga-nos a actuar, a tomar uma atitute qualquer. Não podemos mais refugiarmo-nos na ignorância. "A diletância estéril não nos interessa" estava escrito no cartaz. Na primeira janela estava a fotografia dela. Em Vale de Barris como em Querença estavam os habitantes vivos e os mortos juntos.
Queres vir comigo ver aquela oliveira?... disse o João.
Não quis ir. Era demasiado tarde para uma despedida definitiva.

sexta-feira, junho 02, 2006

Vai já...antes que seja noite

Vivo na rua com o nome do doutor Sousa Martins, médico, cientista e investigador!
José Tomás de Sousa Martins nasceu em Alhandra, a 7 de Março de 1843, filho de um carpinteiro. Foi o mais novo de quatro irmãos. Após a morte do pai, passa, ainda em criança, a viver com um tio, dono da Farmácia Ultramarina que ainda hoje existe na Rua de S. Paulo, em Lisboa, quase em frente ao Elevador da Bica. Tirou primeiro o curso de farmacêutico, e só depois o de médico e, em poucos anos, tornou-se um dos vultos marcantes da sua época.
Um dos cientistas mais prestigiados do país, desfrutava de projecção internacional pelo estudo da tuberculose e das doenças nervosas. Integra a Geração de 70 e afirma-se «um progressista e um maçon».
Em 1881, o Doutor Sousa Martins ao fazer uma expedição à Serra da Estrela considerou a elevada montanha um local óptimo para o tratamento da tuberculose. Em sua honra e pelo seu empenho à causa da tuberculose, veio a ser dado ao Sanatório agora aí existente o nome de Sousa Martins.
Solteiro e “bom rapaz”, filho exemplar, dedica-se à medicina, física, química, botânica, zoologia, cirurgia, literatura, poesia, filosofia, história e oratória. A luta contra a tuberculose fazia-o expor-se à doença, nos contactos diários e directos com os doentes terminais. Detinha-se junto deles, a amenizar-lhes o medo. Muitos morreram de mãos entre as suas, alguns viram-lhe “auras” estranhas sobre os cabelos.
Aos seus alunos dizia: «quando entrardes de noite num hospital e ouvirdes algum doente gemer, aproximai-vos do seu leito, vede o que precisa o pobre enfermo e, se não tiverdes mais nada para lhe dar, dai-lhe um sorriso».
A tuberculose foi quem lhe arrancou a vida. Na madrugada de 17 para 18 de Agosto de 1897, tinha Sousa Martins 54 anos, sem vontade de assistir à sua derrota, suicidou-se. Antes de morrer escrevera: «a tuberculose, antes de arrancar a vida ao homem, faz dela um longo martírio, e do mártir um inválido». Confidenciara ainda a um amigo que «um médico ameaçado de morte por duas doenças, ambas fatais (tuberculose e lesões cardíacas), deve eliminar-se por si mesmo». Hoje, a sua fama perdura (sobretudo a nível popular), devido ao seu saber, inteligência, caridade e dedicação com os doentes pobres. Sabendo dosear tanto os produtos naturais como os químicos, efectua curas espectaculares merecedoras de muitos louvores. Faleceu em 18/8/1897. Repousam hoje os seus restos mortais num mausoléu de família no cemitério de Alhandra.
"Dizem que por amor se matou novo....ali no lugar de Porto Covo!

quinta-feira, junho 01, 2006

Portugal : Um Mito francês para uma utopia inglesa?












Os preconceitos impedem-nos de poder olhar o mundo de outra forma...
Perdidos os anéis, fica-nos a mão... O Brasil tinha declarado a sua independência em 1822, com responsabilidades agravadas dos nossos primeiros liberais vintistas.... sobre o assunto já foi escrito e dito quase tudo.
Ficava o sonho imperial africano...do terceiro império. Portugal foi sempre verdadeiramente um país de Messias.
Os nossos historiadores liberais eram sobretudo monárquicos, católicos e anti-democráticos. Escritores e poetas... Herculano inventou a vontade medieval afonsina. Rebelo da Silva, membro fundador da Comissão para as Comemorações do 1º de Dezembro, o mito da ocupação filipina...
Acreditavam verdadeiramente que a liberdade (para alguns) e a razão fariam deste povo um exemplo de vontade e tenacidade. Mas quem quem lhes encomendou o discurso?
Releio as cartas de D. Pedro V. para o Tio Alberto (recentemente reeditadas pela M. F. Mónica) e não consigo entender a subserviência de uma boa parte da nossa "intelectualidade" da época a um rei falhado. Sorte de uma princesa espanhola que foi trocada por uma Estefánia que morreu virgem. O azar... foi todo nosso.
O resultado para mim e muitos amigos é francamente pessimista: "o nosso liberalismo revolucionário mas moderado... elitista e ao mesmo tempo paternalista, apesar de todos os independentismos... foi feito por homens desarmados, [desamados] e sós... Os portugueses assimilam o modelo francês revolucionário (ou o conservador) e querem viver à inglesa! ( o modelo de Eça ou mesmo o de Salazar não deixa de ser impressionante...uma cultura francesa mal digerida e uma cultura inglesa admirada!)"Gentil da Silva, "Le modèle étranger dominant et le freinage d'une pensée national portuguaise au XIX siécle", Lisboa, FCG, 1982.