sexta-feira, janeiro 27, 2006

Saudades de Cabo Verde












No mundo moderno em que vivemos a nacionalidade deve ser concebida como coisa única? Em Portugal temos um herói ou vários deles? Quando estou a falar em heróis, estou a falar em pessoas que galvanizam opiniões. Em Portugal tivemos claramente vários heróis nestas eleições. Cavaco Silva porque ganhou à primeira volta. Manuel Alegre porque perdeu por uma “unha negra”. Mário Soares, enfim, fez o que pôde e lutou até ao fim, Jerónimo de Sousa segurou o seu eleitorado e ultrapassou o seu próprio partido nas ultimas eleições autárquicas. Louçã, talvez tenha sido aquele que ganhou menos, mas mesmo assim, lá conseguiu saltar a barreira psicológica dos 5%.
Em colectividades como a nossa, os símbolos máximos da nacionalidade moderna, o presidente, a bandeira, o hino, tem pouca importância e carisma no coração e no quotidiano dos portugueses. Perdem importância quando comparados com outros conjuntos de praticas sociais vigentes no nosso dia a dia. Quantos portugueses vão perder o próximo Benfica-Sporting? Quantos vão almoçar o que houver no domingo entre a família, a amizade, a bebida e a música? Se o Estado diz que somos cidadãos, o emprego, a família e os amigos informam-nos que são as relações que mantemos entre os vários elementos que nos definem no centro e na casa.
Falar de cidadania é pois começar a recusar personalizar o poder, recusando reduzir o jogo democrático e deixar de atribuir culpas apenas ao governo deixando de fora todos os outros componentes da máquina administrativa e judicial. Isso vale também para as críticas aos partidos políticos. Falar de cidadania a nós enquanto cidadãos é lembrarmo-nos todos os dias que existe uma opção de representar a verdade de forma activa e da melhor maneira que se é capaz ou, assumir uma forma passiva, ao resignar-se a ser governado por uma autoridade ou poder.

Não sei a que propósito vêm as saudades de Cabo Verde... Deve ser do frio e da vontade que a primavera desperte !