quinta-feira, março 23, 2006

À SUIVRE

A minha paixão pela banda desenhada franco-belga tem muito a ver com a revista "Tintin" aquela que dos 9 aos 99 anos todos podiam ler lá em casa. Aliás antes de ser o Fokas ...o meu primeiro nick na Net foi Banzai, um herói meio idiota de uma série fantástica, de cujos autores já não me lembro. Havia sempre numa única "prancha", um sargento e um soldado. Mas a grande novidade do Banzai é que os "japos" que sempre tinham aparecido com imagens negativas, apareciam agora a cores, em caricaturas absolutamente normais e intelígiveis para qualquer português que andasse na escola e soubesse ler nas entrelinhas. Mas o meu Banzai vivia sózinho num apartamento e dava-se muito bem com a vizinha! Acabou mal...mas já nem me lembro bem dessa estória.
Isto não constituia evidentemente nenhuma traição ao "Mundo de Aventuras" e ao "Falcão". Sempre adorei o Mandrake e o Fantasma, assim como devorava as aventuras do grande major luso-britânico Jaime Eduardo de Cook e Alvega ou da Manselle X, personagens de um ALLO ALLO, quando ainda não havia Britcom! Foi aliás nesta banda desenhada americana que aprendi as minhas primeiras palavras de alemão, essa língua estranhissima que um dia me serviu para entender que há sempre algum facto relevante para provar que o nosso próprio grupo é "bom" e que o outro é "mau". E as condições em que um grupo consegue lançar um estigma sobre outro eram aproveitadas pelos dois lados. "Ich bin ein Berliner". Em plena Guerra Fria foi construído um Muro em Berlim que separou a cidade e os seus habitantes e não havia sequer a possibilidade de voltar a sonhar com a reunificação alemã. De repente passou a haver duas alemanhas. Uma boa, a República Federal Alemã e outra má, a República Democrática Alemã. Os nazis tinham sido derrotados e Hitler tinha-se suicidado no bunker. Duas alemanhas que serviam de tema para uma das mais interessantes séries de John Le Carré que só li muitos anos mais tarde em Hamburgo, sem sonhar sequer que "O espião perfeito" seria um dos livros que mais me perturbou. Um dia volto a ele se tudo correr bem!

Mas voltando ao E. P. Jacobs, o belga aliás políticamente incorrecto que inventou "O Enigma da Atlântida", deve ter saído na altura em que lia tudo o que de Jules Verne havia sido editado em português! E logo nas primeiras páginas, as imagens dos Açores, a Lagoa das Sete Cidades, as Furnas, um português com roupa de pescador e barrete de campino, penso que descalço, um burro, que descrevia às mil maravilhas a imagem de Portugal na Europa, apesar dos esforços do regime. Era o tempo dos bidonvilles, dos empregos na poubelle e do chiffon!

(à Suivre...)