quarta-feira, abril 12, 2006

Bed in


Um dia recebi um livro de um amigo com uma dedicatória "You may say i'm a dreamer but i'm not the only one". Chama-se "O que é o Marxismo". Autor V.I. Ulianov. Era interessante o livro mas não menos a dedicatória. O John Lennon tinha sido alguma vez marxista e eu não tinha percebido nada?
Não, o John era simplesmente um pacifista, um provocador ( que mais tarde entendi que tinha aprendido com a Yoko, essa sim artista plástica) que jubilaria com a queda do Muro de Berlim, gritaria bem alto "Give peace a chance" , seria a favor da legalização de todas as espécies de drogas e certamente estaria connosco todos nas manifestações contra guerra do Iraque.
Isto vem a propósito de um tema de jornal que achei engraçado. Tinham finalmente descoberto um manuscrito gnóstico do século II, um tal "Testamento de Judas". Afinal o gajo até era "alegrista" dirão alguns mal intencionados. Como não sou, nem cristão nem católico, não acredito no credo, da virgem e da ressureição, este assunto pelo meu lado estaria terminado. Quero lá saber do Judas e de Jesus. Mas não é assim...Somos aquilo que vamos fazemos mas somos também aquilo que nos fazem crêr. É que o meu filho anda impressionado com esta descoberta e veio-me perguntar o que é que eu achava. Ele sabe que eu tenho um enorme respeito por todas as religiões apesar da não ser crente... e de vez em quando digo mesmo umas heresias!
Tenho é menos respeito pelas opiniões do senhor V. I. ULianov que escreveu esse livrinho, mas que não é muito diferente dos livrinhos que os meninos usavam na catequese...
A Revolução Russa foi sempre um tema de debates inesgotáveis... Ma não se falava dos sovietes de Turin, de Budapeste ou de Berlim. Tinham sido operações falhadas. Os fascistas tinham simplesmente assassinado a Rosa Luxemburgo e os amigos...era melhor esquecer esses acontecimentos trágicos. Temas marginais para dias melhores...
O Fascismo e a Guerra Colonial eram o inimigo principal. Nisso estavamos todos de acordo. Felizmente aconteceu o 25 de Abril de 1974 em Portugal. Feito por militares, milicianos, grande parte oriundos de boa cepa...tudo bem. O 1º de Maio de 1974 foi um momento inesquecível para todos. Depois é que se complicaram as coisas... e muito. De tal forma que passado um ano a tal, a Revolução tinha terminado. Hierarquias militares estabilizadas, respeito pela Constituição e respeito pelos resultados eleitorais.
Foi uma boa altura em 1975 fazer uns meses de serviço (in)cívico mas para conhecer outras realidades.
No ano seguinte entrado na Fac de Direito e depois de muita confusão pelo meio, a minha opcção foi namorar, fazer um "bed in".
A discussão sobre o Marxismo, da maneira como era tratada como um credo de facto nunca me interessou. Tinha mais simpatia pelo Trotsky (que conhecia a biografia fabulosa do Isaac Deutscher, que um amigo, daqueles a sério me ofereceu o primeiro volume), no dia da morte do meu avô... esse sim chamava-se Jesus!) do que pelo Lenine. Do Estaline nem com iscas e depois de um verão na ilha do Farol e de folhear o livro vermelho do grande timoneiro, fiquei com mais curiosidade de conhecer o Nietsche e o "Assim falava Zaratrusta", acabando de vez por me tornar no que sou. Só comprei as obras escolhidas do V. I. Ulianov muitos anos mais tarde...
Depois de algumas discussões acessas com alguns amigos rompi, definitivamente com o centralismo "democrático" e começei a recusar as verdades feitas. Mudei de faculdade, de namorada e começei a trabalhar sobre outros temas.
Confesso que a música sempre me fascinou mas mal sabia arranhar um instrumento. Mas serviu para numa cadeira sobre ideologias e mentalidades fazer um trabalho sobre a "Beat generation e o movimento Hippie! e o Maio de 68...e mais tarde a Bossa Nova.
Foi verdadeiramente a descoberta ....que pode haver uma praia debaixo do alcatrão!
Sou portanto um verdadeiro intelectual burguês de fachada socialista.
Por isso não sou anti-americano porque adoro a cultura americana, o que é diferente de ser anti-Bush. Por isso tenho um profundo respeito por alguns autores judeus, mas não pelo pensamento judeu...and so on...
Adoro uma discussão inteligente nem que tenha que fazer "o papel do diabo" e, tenho amigos de várias cores e feitios que me enchem a cabeça! Pertenço aquela geração que tanto vota num ou noutro partido de esquerda. E foi por isso que resolvi apoiar, um poeta para presidente! Não tenho nada contra os outros, mas aquele... gostava de o cantar! E ainda bem.. porque as causas também fazem novas amizades e só estamos verdadeiramente velhos como escrevia o Mia Couto quando perdemos a capacidade de fazer novos amigos!
Vou levar a biografia do Mao para a ilha do Farol onde vou estar alguns dias com a Elsa e o João até à Páscoa. 30 anos depois do livro vermelho, mas esta escrita pela Jung Chang ( a dos Cisnes Selvagens) . A minha filha telefonou-me depois de ter prometido jantar comigo desde a semana passada! Estou contente.

PS: Levo também o Peter Gay "O século de Schnitzler" comigo, não vá haver algum problema com esta leitura e porque gosto de andar com com os Eyes wide open!