quarta-feira, maio 10, 2006

A Fool on the hill

Deus, estava convencido Baudelaire, preservava aqueles que amava das palavras inúteis.
Mas como adoro representar as diferentes temperaturas e os fenómenos psicológicos da minha alma, aqui ficam algumas observações para não haver confusões. Tudo é e não é ao mesmo tempo (A.M.L.).
Algumas personagens que vão começando a povoar este território de amigos têm cara e mesmo coração...o caso da Barbara e da sua canção sobre o absinto "On n' ècrit pas avec de l'eau...". O caso do Juan Rulfo de que ainda não falei muito, do Pedro Páramo (e a metafora é interessante...) e que vêm a propósito do livro que ando a ler, Tristano morre, do Antonio Tabucchi. Personagens como o Páramo existem e são vários os Pedros que conheço. Existem a sério e ninguém os consegue parar...

A brincadeira dos gambuzinos é dele. Mas existiu connosco e como tantas passagens da sua escrita, a passagem por Portugal é tão clara que me deixa simplesmente delirante. Reconheço nele os mesmos sons, as mesmas cores, os mesmos cheiros, a mesma maneira de observar por exemplo a lata de conservas...enfim, os fragmentos que povoam o seu(nosso) breviário mediterrânico. E sabem quem rege a batuta? Peço desculpa ao Antonio mas a meu ver não é a Frau, não!
Tenha ela o nome que tiver. Existe sempre uma Joana, uma Sílvia ou uma camarada Conceição na vida de um homem. Existem também Teresas e Margaridas. Todas as flores e cada uma o seu perfume. Lulu...c'est moi!
O Rulfo quanto a mim estava mais perto da resposta... Só depois de uma noite em Belgrado é que se começa a ser homem. É na companhia dos fantasmas que nos rodeiam, que não nos deixam descansar...que deixamos o medo para trás.
Sejam eles apenas o som longuínquo dos cascos do cavalo que chega de madrugada sem cavaleiro, ou a visita nocturna da polícia política, ou as bombas. Este blog é mesmo para ser "descabelado"... para que as personagens que vão surgindo façam ouvir a sua voz numa partitura que se vai escrevendo... Sobre as linhas da vida e do coração, essas... como me ensinou o meu mestre Corto Maltese, alteram-se nem que seja com um canivete! A vida constrói-se todos os dias, como dizia o Dalai Lama, a felicidade é o caminho...que obviamente ninguém é obrigado a percorrer.
Isto vem a propósito da vida de todos os dias, das hipocracias dos nossos políticos e outros chefes que nos chateiam, dos nossos heróis que nos visitam e dos amigos que nos convidam para a mesa onde se disputam iguarias, cantares e risos. Em Tristano Morre, Dafne adorava melancia como todos os gregos e latinos. "Os americanos não gostam de melancia se calhar porque aquilo é só água, não tem vitaminas."(p.52). A vida apenas vista através de um olhar de alguém diferente de nós.

PS: "Perdi" Nathan le sage e também la Grimace, traduzidos do alemão para françês. Os divórcios são sempre assim. Acabamos sempre por nos chatear e por perder metade dos nossos verdadeiros tesouros!