segunda-feira, maio 22, 2006

Ja Ja Ja Ja Ja, Nee Nee Nee Nee Nee. Joseph Beuys (1921-1986)


O encontro com a Anna Bella Geiger foi por puro acaso... no Rio de Janeiro, com a E., numa exposição intitulada "Obras em Arquipélagos" mapas imaginários, páginas de geografias intímas, passagens e situações... "A mostra reúne a produção de quatro décadas (1960 até 2004), apresentando 88 obras, algumas muito pouco conhecidas, além de uma seleção de novos trabalhos em linguagem próxima ao poema-objeto." Havia também um filme a preto e branco, anos 60...incluía uma longa entrevista com Beuys. Uma brasileira, meia hippie, fascinada com o mestre qual Margarida... e que queria ouvir mais e mais, tal como todos nós ao ver este documentário.
Afinal era uma senhora ainda bonita com os seus sessenta e tal anos, que acabámos por encontrar no átrio... Com muito calma acedeu a trocar uns sorrisos e umas palavras connosco... Tinha conhecido Beuys bem demais e achou graça ao nosso interesse e coincidência...
Faz vinte anos que desapareceu Joseph Beuys e cerca de um ano que fui ver com os meus filhos aquela exposição perturbadora na Modern Tate, Bankside, London SE1.
Nunca tinha ouvido falar no Joseph Beuys antes a exposição da Anna Bella Geiger... Esculturas estranhas com materiais tão diversos como madeira, ferro, lixo, sangue, feltro e graxa....a predominância de feltro e graxa na obra de Beuys é segundo as suas próprias palavras devida a um incidente ocorrido na guerra.
Joseph Beuys foi alvejado e o seu avião foi abatido durante uma missão na Criméia onde foi recolhido por tártaros. Uma entrada na "Luftwaffe" e uma queda perfeita, onde "ressuscitou" ao fim de muitos dias. O processo pelo qual acabou o seu envolvimento na guerra nunca foi bem esclarecido...
Das enormes queimaduras teria sobrevivido ao ter sido recoberto por feltro e gordura. Não se sabe se essa história é verdadeira, mas agora já faz parte do mito que cerca a figura de Beuys.
No final acompanhava a exposição uma reportagem. Para Beuys, a ligação à natureza não é xamânica. É uma espiritualização do futuro, como na antroposofia que subjaz à sua formação. A pesquisa espiritual de Beuys não procura no passado, integra o passado espiritual num projecto de futuro. Uma espiritualidade consciente e não atávica; não adquirida mas construída... Ultrapassar o irracional e o racional, através de uma procura em que o "oculto" se torna "manifesto".
Depois da guerra, Beuys increveu-se na Academia de Arte de Dusseldorf para estudar escultura. Durante os anos 60 junta-se ao grupo"avant-guarde" Fluxus cujos concertos públicos associavam literatura, música , artes visuais e elementos da vida quotidiana. "Libertar as pessoas é o objetivo da arte, portanto a arte para mim é a ciência da liberdade".
Expulso em 1971 da Faculdade como professor, decidiu continuar a dar os cursos para todos os que o procuravam livremente...onde Beuys desenvolveu o seu conceito de artista como agitador, militando na mudança social. Durante os anos 70, envolvido na política, em campanhas para a reforma do sistema educativo na RFA, nos debates sobre as verdadeiras raízes da democracia alemã, recém imposta pela derrocada do nazismo (Não resisto a lembrar-me do Heinrich Böll e la Grimacee ) onde juntos com uma boa parte da "inteligentsia" do seu tempo colaboraram na fundação do Partido "Die Grünnen".
Em 1982, em Kassel, faz uma exposição como "pretexto" para o desenvolvimento de uma "acção". Após uma longa discussão sobre o homem e a árvore, onde se abordam múltiplas aproximações, desde a mitologia à antropologia e à ecologia, Beuys e as várias dezenas de pessoas plantam 7000 castanheiros. "Plantando árvores, as plantas plantam-se também em nós. Assim coexistimos, sendo um no outro".