quarta-feira, maio 31, 2006

Montedemo ou Montenegro?


Falar da etimologia do conceito de identidade e traçar o seu percurso na história da cultura europeia até aos nossos dias para concluir que o tema é um exemplo perfeito de um vaivém da moda ideológica...O termo não existe no latim clássico nem no neologismo escolástico.
O conceito em si é um paradoxo: pressupõe a similaridade mas é ao mesmo tempo uma singularidade
Em primeiro lugar a identidade é um conceito, uma coisificação do real. Não se pode provar nem refutar porque não é mensurável.
Em segundo lugar o conceito vem de diferentes disciplinas, da psicologia clínica à teoria do marketing, combinada com os preconceitos e os pressupostos comuns a quase dois séculos de ideologia nacionalista e da sua teorização.
Finalmente, a identidade existe objectivamente como um sentimento subjectivo, é uma emoção e uma simplificação extrema de uma noção em que um sujeito é ao mesmo tempo– individual e colectivo – e apenas se revê apenas na oposição entre o sujeito e o outro, que procura entender dentro da alma de uma pessoa o carácter de uma comunidade.

Mas será que o conceito perdeu mesmo todo o seu sentido operatório? Todos os conceitos são abertos nas fronteiras e a crítica constante destes próprios conceitos podem e devem levar os investigadores a tomarem consciência dos seus limites metodológicos, sem cair no absurdo, de esquecer que “os projectos de identidade” quando se manifestam são rivais e disputam o mesmo espaço do discurso.

Outra ideia interessante a da "polissemia" do termo identidade que tem dado azo a ambiguidades e equívocos diversos. Por vezes confunde-se com o de carácter nacional e por isso adquire uma conotação ideológica negativa. Noutros contextos adquire uma conotação de comunidade de ideias e visa uma acção conjunta visando o futuro. Na maior parte dos casos os dois sentidos sobrepõem-se e isso complica o debate.

A historicidade do conceito aplicado à história medieval portuguesa acabaram por identificar dois momentos distintos. O primeiro em volta da ideia de “Hispanidade” que remonta aos tempos tardo romanos- godos e que aparece nos escritos de Isidoro de Sevilha e dos juristas do século XIII. Os reinos peninsulares são realidades regionais mas ainda não se demarcam uns dos outros, desta ideia comum duma mesma hispanidade cristã. A batalha de Salado resveste-se ainda de todo o anterior simbolismo, dos reinos cristãos peninsulares pela oposição aos outros, "os mouros". As primeiras manifestações de uma consciência nacional só aparecem em Portugal mais tarde durante a crise de 1385.
Para terminar recordando Herculano sobre Portugal, só a vontade política de um grupo a impôs!

Montenegro ou Montedemo?