O Manuscrito de Magon

...De noite partia uma caravana para o Sahel.
A única maneira de sair despercebida era juntarmo-nos a ela. Um lençol e um pouco de lama fariam o resto. Saímos de noite disfarçados de árabes. A guarnição não levantara problemas. Uma mulher a mais ou uma mulher a menos...
Lá longe das estrelas anoitámos perto das montanhas. Um françês que viajava connosco e contrabandeava armas de fogo e aguardente de figo com os berberes, dizia-me: O mar mouro é traição. E faz anos que não via portugueses por estas paragens...
Deviamos ser rápidos e tentar chegar ao Egipto o mais depressa possível. Os Turcos não se importavam com os estrangeiros...
O Nilo é enorme e o vento leva-nos à bolina. Resmungo e rio, devolvo-te as palavras, porque não te posso ouvir mais... São muitos os beijos e as lágrimas que deixo para trás. E são muitas as esperanças que deposito nesta viagem.
Ontem chovia e o céu apresentava um tom roxo ameaçando tempestade. Mas agora, só nos restava a nostalgia de voltar ao Cairo, ou seguirmos em frente, em busca das suas nascentes...
Mas tenho medo. Medo de nos faltarem os braços suficientemente fortes para chegarmos até ao fim. De vez em quando, dizia-me, ficava meia transtornada de coisas indefinidas e também roxas que de repente a ameaçavam...
Mas o que é importante foi o encontro, tudo se resume nisso. O encontro com o mestre tinha-me dito. O encontro marcado, em Heliopólis, no terraço sombrio onde encontrou finalmente Magon pela primeira vez...
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