terça-feira, julho 25, 2006

Os Cinco Violinos


Qualquer certidão de nascimento estabelece uma filiação. A vida começa com a designação dos antepassados e com a proclamação de uma descoberta: existe um caminho de acesso às origens, que permite descobrir os avós fundadores e recolher os seus preciosos legados...
Qualquer historiador sabe disso, mas não pode saber nem imaginar o quão pouco significa este documento.

Já escrevi algures neste blog sobre a família. Mas recebi na semana passada um documento extraordinário. Nada menos do que a cópia do livro de autógrafos da Sra. Rebello da Silva, com uma deliciosa( aos olhos de hoje como dos de ontem) dedicatória do seu marido. " Permite que eu abra este album, que tomo a liberdade de te oferecer. Entre nós que possso dizer-te que tu não saibas? Não desejes senão a felicidade que tens ao pé de ti e que é só apreciada quando se perde. Não queiras mais. A verdadeira ventura satisfaz-se com pouco e vive de si mesmo. Deixa ao mundo as suas ilusões e abraço-te com os amores mais suaves do coração - neles acharás tudo quanto podes cobiçar". (10 de Setembro de 1859).
Nele escreveram Herculano, Camilo e outros nomes que definem uma rede de sociabilidade que infelizmente hoje se perdeu na memória. Na casa da Joaninha como na sauna de Türku existia um livro onde os amigos e os viajantes deixavam registado aquilo que lhes passava pela cabeça...

Não havia uma memória que fosse estritamente individual. Qualquer lembrança, por mais pessoal que fosse mesmo a de sentimentos que não chegamos a expressar, encontra-se relacionada com todo um conjunto de "pre-conceitos" que todos nós possuimos, com pessoas, lugares, datas e formas de linguagem, com raciocínios e ideias, quer dizer, com toda a vida material e moral das sociedades de que fazemos ou de que fizemos parte – como a família, o grupo profissional ou a classe social – enquanto matriz da memória (Halbwachs 1994 [1925]; 1950).
Para este sociólogo francês, a memória não era um vestígio simples do passado, algo que resistisse à erosão da passagem do tempo, ao esquecimento. Também não constituía
uma mera reminiscência de factos passados.
Muito pelo contrário. Era uma reconstrução – e uma representação – do passado elaborada no presente (Halbwachs 1994 [1925]: 34).
Halbwachs utilizou a expressão “memória colectiva” – para se referir à memória de grupos, como a família ou a classe ou mesmo o clube.
Há quem defenda que tal não significa que ela seja necessariamente colectiva; alguns preferem a designação de memória social, pois a qualificação de colectiva implicaria ver no indivíduo um simples autómato portador de uma vontade colectiva interiorizada...eu por mim estou do lado destes últimos... não conheço por exemplo o nome dos "cinco violinos"* porque o meu avô Jesus sempre foi do Benfica.

* Jesus Correia, Vasques, Travassos, Peyroteo e Albano - os "cinco violinos" que tornaram o futebol leonino quase imbatível a nível nacional ...há muitos muitos anos atrás. ( Do Google)

Em 2005, foi diagnosticado a Neil Young um aneurisma. Antes da operação, Young refugiou-se em Nashville e compôs um dos seus mais alucinantes álbuns, um ciclo memorável de canções enraizadas nas suas experiências e memórias. A cirurgia correu bem. Quem não se lembra desta canção?

I´m keeping searching for a heart of gold
But i'm getting old.