segunda-feira, novembro 19, 2007

Por qué no te callas?

Hoje começou o Inverno e não me apetece discutir mais nada...
Ando de volta com as notícias dos jornais portugueses da época sobre a viagem da corte portuguesa para o Rio de Janeiro e a pensar no que hei-de escrever de novo sobre o Brasil que ainda não tenha sido dito. Confesso que só tenho tido ideias estúpidas ao confrontar-me com as reais dificuldades do governo em encontrar um local adequado para instalar a tenda do coronel Kadaffi na Expo, ou de como lidar com o coronel Chavéz nas próximas visitas a Lisboa.

Mas hoje, ao receber a informação sobre Music Genres and Corporate Cultures do Keith Negus, um autor que eu admiro e que há anos se tem debruçado sobre Música Popular, depois de ler um artigo de uma nova conhecida aqui num blog da Net, fez-se finalmente luz! Afinal, porque não olhar esta trama como nas outras todas que se seguiram no Brasil imperial, pelo olhar das mulheres?

Mais umas notícias... e deparo com o inevitável.
O filme Carlota Joaquina, Princesa do Brasil (1995) de Carla Camurati, uma comédia de sucesso no Brasil, explora o efeito burlesco criado pela caricatura dos membros da família real, quer o da própria protagonista, exibida como uma anã adúltera impenitente e de apetite sexual irrefreável, quer o de D. João VI, já ridicularizado enquanto personagem de uma peça teatral escrita e encenada por Hélder Costa ao estilo "agit-prop" característico de um certo teatro pós 25 de Abril, apresentando-o como indolente, glutão, hesitante e influenciável. Personagem grotesca, que a própria historiografia ajudou a construir.
É no entanto surpreendente que as imagens que se formaram de um e do outro lado do Atlântico apareçam tão diferentes e divididas nos dois Continentes. Em Portugal, implantada a República, reforçava-se a lenda negra dos Braganças. No Brasil, pelo contrário, a figura do rei português e brasileiro, reabilitava-se com um trabalho classificadado por Oliveira Martins, como "quixotesco" pela sua inutilidade prática. Finalmente, já no século XX, recuperado o equilíbrio numa interpretação crítica da actuação do príncipe, por Valentim Alexandre, no seu trabalho gigantesco Os sentidos do Império, podemos enfim retomar a questão sempre inicial.

Sei agora por onde começar.

Ante o alvoroço dos criados que a transportavam apressadamente para o navio, D. Maria I, a rainha louca, num último lampejo de lucidez e de dignidade majestática, repreendia os seus criados, exigindo-lhes que não corressem, não fosse alguém pensar que fugia...
Assim fica registada a fina ironia desta história simples.

Hoje também, O Estado de S. Paulo, um dos maiores jornais brasileiros, informa em Artes e Lazeres na rubrica Novidades que cerca de 500.000 espanhóis já fizeram o "download" para o seu telemóvel da famosa frase do rei: "Por qué no te callas?"...