sábado, janeiro 28, 2006

Fim da tarde em Volendam


sexta-feira, janeiro 27, 2006

Saudades de Cabo Verde












No mundo moderno em que vivemos a nacionalidade deve ser concebida como coisa única? Em Portugal temos um herói ou vários deles? Quando estou a falar em heróis, estou a falar em pessoas que galvanizam opiniões. Em Portugal tivemos claramente vários heróis nestas eleições. Cavaco Silva porque ganhou à primeira volta. Manuel Alegre porque perdeu por uma “unha negra”. Mário Soares, enfim, fez o que pôde e lutou até ao fim, Jerónimo de Sousa segurou o seu eleitorado e ultrapassou o seu próprio partido nas ultimas eleições autárquicas. Louçã, talvez tenha sido aquele que ganhou menos, mas mesmo assim, lá conseguiu saltar a barreira psicológica dos 5%.
Em colectividades como a nossa, os símbolos máximos da nacionalidade moderna, o presidente, a bandeira, o hino, tem pouca importância e carisma no coração e no quotidiano dos portugueses. Perdem importância quando comparados com outros conjuntos de praticas sociais vigentes no nosso dia a dia. Quantos portugueses vão perder o próximo Benfica-Sporting? Quantos vão almoçar o que houver no domingo entre a família, a amizade, a bebida e a música? Se o Estado diz que somos cidadãos, o emprego, a família e os amigos informam-nos que são as relações que mantemos entre os vários elementos que nos definem no centro e na casa.
Falar de cidadania é pois começar a recusar personalizar o poder, recusando reduzir o jogo democrático e deixar de atribuir culpas apenas ao governo deixando de fora todos os outros componentes da máquina administrativa e judicial. Isso vale também para as críticas aos partidos políticos. Falar de cidadania a nós enquanto cidadãos é lembrarmo-nos todos os dias que existe uma opção de representar a verdade de forma activa e da melhor maneira que se é capaz ou, assumir uma forma passiva, ao resignar-se a ser governado por uma autoridade ou poder.

Não sei a que propósito vêm as saudades de Cabo Verde... Deve ser do frio e da vontade que a primavera desperte !

quinta-feira, janeiro 12, 2006

História do Futuro



“O tempo, como o mundo, têm dois hemisférios: um superior e visível, que é o passado, outro inferior e invisível, que é o futuro. No meio de um e outro hemisfério ficam os horizontes do tempo, que são estes instantes do presente que imos vivendo, onde o passado se termina e o futuro começa”.

Padre Antonio Vieira
História do Futuro

terça-feira, janeiro 10, 2006

A um Portugal mais alegre














Esta é a ditosa pátria minha amada. Não.Nem é ditosa, porque o não merece.Nem minha amada, porque é só madrasta.Nem pátria minha, porque eu não mereço A pouca sorte de nascido nela. Nada me prende ou liga a uma baixeza tanta quanto esse arroto de passadas glórias. Amigos meus mais caros tenho nela, saudosamente nela, mas amigos são por serem meus amigos, e mais nada. Torpe dejecto de romano império;babugem de invasões; salsugem porcade esgoto atlântico; irrisória face de lama, de cobiça, e de vileza, de mesquinhez, de fatua ignorância;terra de escravos, cu pró ar ouvindo ranger no nevoeiro a nau do Encoberto;terra de funcionários e de prostitutas, devotos todos do milagre, castosnas horas vagas de doença oculta;terra de heróis a peso de ouro e sangue, e santos com balcão de secos e molhados no fundo da virtude; terra triste à luz do sol calada, arrebicada, pulha, cheia de afáveis para os estrangeiros que deixam moedas e transportam pulgas, oh pulgas lusitanas, pela Europa;terra de monumentos em que o povo assina a merda o seu anonimato;terra-museu em que se vive ainda, com porcos pela rua, em casas celtiberas;terra de poetas tão sentimentaisque o cheiro de um sovaco os põe em transe;terra de pedras esburgadas, secas como esses sentimentos de oito séculosde roubos e patrões, barões ou condes;ó terra de ninguém, ninguém, ninguém:eu te pertenço. És cabra, és badalhoca, és mais que cachorra pelo cio, és peste e fome e guerra e dor de coração. Eu te pertenço mas seres minha, não.

Jorge de Sena

segunda-feira, janeiro 09, 2006

Campanha Alegre

Os bens de poucos sofrem a ameaça dos males de muitos
O Demônio é pobre
Lambem-se enquanto você come, espiam enquanto você dorme: os pobres espreitam. Em cada um se esconde um delinquente, talvez um terrorista. Os bens de poucos sofrem a ameaça dos males de muitos. Nada de novo. Tem sido assim desde quando os donos de tudo não conseguem dormir e os donos de nada não conseguem comer. Submetidas a um acossamento durante milhares de anos, as ilhas da decência estão encurraladas pelos turbulentos mares da vida desgraçada. Rugem as ondas sucessivas que forçam viver em sobressalto perpétuo. Nas cidades de nosso tempo, imensos cárceres que prendem os prisioneiros ao medo, as fortalezas dizem ser casas e as armaduras simulam ser trajes. Estado de sítio. Não se distraia, não baixe a guarda, desconfie: você está estatisticamente marcado, mais cedo ou mais tarde terá que sofrer algum assalto, sequestro, violação ou crime. Nos bairros malditos espreitam, ocultos, remoendo invejas, tragando rancores, os autores de sua próxima desgraça. São vagabundos, pobres diabos, bêbados, drogados, carne de cárcere ou bala, pessoas sem dentes, sem rumo e sem destino. Ninguém os aplaude, porém os ladrões de galinha fazem o que podem imitando, modestamente, os mestres que ensinam ao mundo as fórmulas do êxito. Ninguém os compreende, porém eles aspiram serem cidadãos exemplares, como esses heróis de nosso tempo que violam a terra, envenenam o ar e a água, estrangulam salários, assassinam empregos e sequestram países.

Eduardo Galeano
Le Monde Diplomatique , Agosto de 2005

sábado, janeiro 07, 2006

Eu não quero pátria, quero mátria, quero fátria!

(Caetano Veloso)



Pátria, o que é?
(…) O povo não usa sequer este vocábulo. Mais exacto de ordinário nas suas expressões que as classes elevadas, ele fala muitas vezes na sua terra, nunca na sua pátria. É que a primeira palavra corresponde-lhe a uma ideia; é a tradução de uma coisa possível, compreensível, simpática para ele: a segunda representa-lhe uma coisa abstracta, vaporosa, vaga, que não diz nada nem à sua limitada inteligência, nem ao seu coração.
A ideia complexa de pátria concebem-na as classes superiores, cujos horizontes intelectuais são mais vastos, e entre as quais a faculdade da generalização se desenvolve desde a meninice, pela educação e pelo hábito, ao lado dos sentimentos, que aliás lhe são comuns com o povo a esse respeito. São elas que constituem o laço desses diversos patriotismos locais, que lhes dão unidade, que sem os destruir os organizam para estribar sobre eles o sentimento geral da nacionalidade.
Alexandre Herculano, 1853 – Opúsculos Tomo I", Edição organizada por Joel Serrão, 1983 Livraria Bertrand, pp.394-95.

sexta-feira, janeiro 06, 2006

Carta de Lisboa



















A viagem por muito rica e movimentada que seja, não é mais do que um parêntesis no nosso percurso de vida. A viagem não encontra verdadeiramente a sua plenitude que nos dois campos últimos da itinerância: a solidão de uma ilha ou a extensão do planeta. ( Jean Chesneaux)