quarta-feira, novembro 28, 2007

Para nunca dizerem que não falei em flores...

Tem tudo a ver só comigo. Não tem nada a ver com alemães nem com judeus, política... nem mesmo com a SL.
E se há assuntos que só podemos entender porque somos homens... são as comadres. A vida sem comadres não valia a pena ser vivida.
Estão atentas, trabalham e andam na net.

Atentas como formigas porque sabem que o Inverno é uma estação perigosa. Trabalham para que nada falte às cigarras da família... que levam a vida mais a curtir. Mas apesar da azáfama do dia a dia têm sempre um cantinho em casa que sobra para os outros de quem elas gostam.
Trabalham duro e admiro-as... são pessoas bonitas em tudo aquilo que sabem fazer ( existe uma cumplicidade óbvia entre compadres e comadres...pelo conhecimento do outro... pela diferença... e o reconhecimento dos sinais entre as entrelinhas). Uma comadre é uma pessoa que sabemos que estará sempre ao nosso lado... Criticando claro, dando a sua opinião, chamando-nos os piores nomes do mundo... o que é normal numa comadre!

E como mulheres modernas que são...também andam na net...lêem os nossos blogues porque lhes são familiares...não fazem comentários públicos porque acreditam piamente que somos aquilo que somos e por isso não é relevante um elogío ou uma crítica.

Tenho a sorte de ter duas Grandes Comadres ... que sempre souberam acompanhar-me em momentos difíceis sem nunca se calaram... capazes de me dizer na cara as maiores enormidades do mundo!

Esta posta de prosa é para elas!

Para nunca dizerem que eu não falei em flores!

segunda-feira, novembro 26, 2007

Um amor em cada porto

O Inverno trás sempre consigo alguma desordenação na ordem.
Como nas relações amorosas.

Já não sei quem dizia"Amar é ser só um"...mas a questão é qual?

A história da harmonia, da fusão primitiva e perdida, o mito que começa em Platão no Banquete e que ainda atravessa toda a literatura ocidental.

O que sempre me impressionou na paixão foi sempre a estranheza do outro.
As relações amorosas nunca são transparentes. Os amantes julgam que se entendem, que se compreendem por meias palavras. Imaginam e acreditam que vivem uma espécie de fusão abençoada...no entanto conheço muitos homens que não detestam ter uma mulher diferente à sua frente.

Podemos ser jovens e acreditar no amor platónico, aceitar que existe uma certa autonomia dos sentimentos, que assim teriam uma esfera própria... Mas também podemos hoje ser mais crescidinhos e poder amar uma mulher simplesmente porque desejamos intensamente o seu corpo.

E conversas amenas debaixo de uma macieira mesmo virtual, longe da actualidade e da rotina do dia a dia ajudam-nos a reflectir sobre as diferenças que existem entre os homens e as mulheres. Sem crises e sem dramas.
Ai se eu fosse um marinheiro...








segunda-feira, novembro 19, 2007

Por qué no te callas?

Hoje começou o Inverno e não me apetece discutir mais nada...
Ando de volta com as notícias dos jornais portugueses da época sobre a viagem da corte portuguesa para o Rio de Janeiro e a pensar no que hei-de escrever de novo sobre o Brasil que ainda não tenha sido dito. Confesso que só tenho tido ideias estúpidas ao confrontar-me com as reais dificuldades do governo em encontrar um local adequado para instalar a tenda do coronel Kadaffi na Expo, ou de como lidar com o coronel Chavéz nas próximas visitas a Lisboa.

Mas hoje, ao receber a informação sobre Music Genres and Corporate Cultures do Keith Negus, um autor que eu admiro e que há anos se tem debruçado sobre Música Popular, depois de ler um artigo de uma nova conhecida aqui num blog da Net, fez-se finalmente luz! Afinal, porque não olhar esta trama como nas outras todas que se seguiram no Brasil imperial, pelo olhar das mulheres?

Mais umas notícias... e deparo com o inevitável.
O filme Carlota Joaquina, Princesa do Brasil (1995) de Carla Camurati, uma comédia de sucesso no Brasil, explora o efeito burlesco criado pela caricatura dos membros da família real, quer o da própria protagonista, exibida como uma anã adúltera impenitente e de apetite sexual irrefreável, quer o de D. João VI, já ridicularizado enquanto personagem de uma peça teatral escrita e encenada por Hélder Costa ao estilo "agit-prop" característico de um certo teatro pós 25 de Abril, apresentando-o como indolente, glutão, hesitante e influenciável. Personagem grotesca, que a própria historiografia ajudou a construir.
É no entanto surpreendente que as imagens que se formaram de um e do outro lado do Atlântico apareçam tão diferentes e divididas nos dois Continentes. Em Portugal, implantada a República, reforçava-se a lenda negra dos Braganças. No Brasil, pelo contrário, a figura do rei português e brasileiro, reabilitava-se com um trabalho classificadado por Oliveira Martins, como "quixotesco" pela sua inutilidade prática. Finalmente, já no século XX, recuperado o equilíbrio numa interpretação crítica da actuação do príncipe, por Valentim Alexandre, no seu trabalho gigantesco Os sentidos do Império, podemos enfim retomar a questão sempre inicial.

Sei agora por onde começar.

Ante o alvoroço dos criados que a transportavam apressadamente para o navio, D. Maria I, a rainha louca, num último lampejo de lucidez e de dignidade majestática, repreendia os seus criados, exigindo-lhes que não corressem, não fosse alguém pensar que fugia...
Assim fica registada a fina ironia desta história simples.

Hoje também, O Estado de S. Paulo, um dos maiores jornais brasileiros, informa em Artes e Lazeres na rubrica Novidades que cerca de 500.000 espanhóis já fizeram o "download" para o seu telemóvel da famosa frase do rei: "Por qué no te callas?"...


quinta-feira, novembro 08, 2007

Bateson em Lisboa

Nas imagens do século XX sempre hesitei sobre as verdadeiras imagens do Terror.
A pedido de várias famílias quero esclarecer alguns dos meus amigos que Auschwitz e Hiroxima são provavelmente as minhas preferidas...

Escolho Auschewitz porque ela demonstrou a ausência de Deus. Mas escolho Hiroxima também porque demonstrou o absurdo da banalidade, mesmo antes de Nuremberga e as relatadas pela Hanna Arendt no julgamento de Eichmann em Jerusalém...

E quero ainda dizer que apesar das minhas convicções pessoais e transmissíveis (Não fiz carreira nas ciências exactas...e como tal admito a dúvida e a incerteza) , tenho muito orgulho nos meus amigos mesmos quando dizem ou escrevem disparates...

No metaverso ou na metalinguagem, já não tendo idade para me questionar sobre a desarrumação das coisas...muito menos das palavras, passei-me mais uma vez com um artigo publicado aqui na net sobre a Revolução de Outubro. O que já começa a ser preocupante! Ontem tinha sido por causa do Papa e dos 500 mártires espanhóis franquistas, como se não tivessem havido mortos no lado republicano...triste figura quando se confunde a religião e a política colocando no mesmo plano moral a vingança e a justiça.

A revolução de Outubro que o "camarada" Jerónimo voltou a comemorar em Novembro sem nenhum sentido crítico, não pode explicar um texto absurdo de um outro companheiro...que falando no século XXI vem descarregar a sua bílis num texto provocatório e anacrónico sem sentido absolutamente nenhum... Falar em bolcheviques facínoras, acusá-los de colaboração activa com os imperialistas alemães e com o Kaiser, e ao mesmo tempo lamentar o desastre do levantamento de Berlin e do assassinato da Rosa Luxemburgo... é uma insinuação não documentada e francamente de muito mau gosto. Eu sei que está na moda ser criativo, mas caramba... Aconselho pois o meu amigo a reler a história do que ele apelida da verdadeira revolução alemã de 1918.
Muitas vezes tenho sido acusado de neo-judaísmo e de simpatias germanófilas....É apenas uma parte da verdade! Tenho sim um enorme respeito pela Cultura de língua alemã, dos seus músicos, filosófos, intelectectuais e artistas que ultrapasssaram a fronteira fechada de um herança judaica e se tornaram verdadeiros cidadãos do Mundo. Eles são muitas vezes citados neste blog independentemente das suas verdadeiras crenças.
O Judaísmo como religião não me interessa nem nunca me interessou.
O que chamo de fidelidade aos princípios e à tolerãncia que sempre respeitei, é o que me resta da fé depois de a ter perdido. Como alguém que não me lembro um dia já escreveu, não é Deus que está na cruz. É um homem que não creio que seja Deus nem que seja o filho de Deus nem que tenha ressuscitado, mas que acredito que possa ter morrido numa cruz.

Se observei na nova Berlin o nome de Varian Fry não foi por acaso... posso também dizer que me revolta a intromissão da comunidade judaica quando a Câmara de Lisboa apresentou (e quanto a mim muito bem) uma proposta laica e republicana de plantar uma enorme oliveira no largo de S. Domingos para comemorar o dia mundial da tolerância e o massacre de milhares de judeus em Lisboa em 1506. Proposta essa apoiada pelo PS, pelo Movimento de Cidadãos por Lisboa e pelo BE e com decisão adiada para ouvir a opinião das várias sensibilidades religiosas. Inaceitável e ridículo!!!! A César o que é de César!

Em Metalinguagens, George Bateson num diálogo lindíssimo com a filha questionava :

"Porque é que as coisas se desarrumam... pai?"

Enfim, vivemos num país livre...







quarta-feira, novembro 07, 2007

Esperando veleiros perdidos...

Nas viagens que tenho feito e que foram muitas durante este tempo em que andei por fora, encontrei um dia no Jornal deLetras uma outra ilha que me tem tirado algumas horas de sono, especialmente porque grande parte dos seus habitantes são gente da noite...avatares que dançam e falam e que partilham de uma forma original o fim de um dia de trabalho na vida real.

Estou a falar da Second Life, um mundo virtual em 3D que tem um local especialmente acolhedor em Portucalis, uma ilha imaginária que um grupo de amigos criou já há uns tempos atrás. Ali entrando, por uma passagem estreita quase secreta ( mas conhecida por todos os seus habitantes) entre as muralhas do Castelo de Almourol (parabéns à Câmara de Vila Nova da Barquinha pela coragem de ter aderido a um projecto multimédia no cyberespaço) e o Bar O Caneco, reunem-se todas as noites gentes de Norte a Sul numa Tasca portuguesa, onde só falta o cheiro da sardinha assada...

A conversa gira normalmente à volta de "fait divers" sendo a maior parte do tempo dedicada a ensinar os novos vistantes a utilizarem as ferramentas disponíveis deste Novo Mundo acessível à distancia de um clique e de uma conta de Internet. É engraçado encontrar os sotaques mais variados e as idades mais díspares, sentadas ou em pé, neste café Virtual que funciona como uma verdadeira porta de entrada para esta pequena comunidade que fala ( ou tecla) em português, com uma mestria e um desembaraço impressionantes.

Estou a falar da capacidade de criação de novos modelos, gestos, objectos e sons que são manipulados quase diáriamente por gente real. Não era a Poulana mas era a Marga. Não era o Ismo mas era o TP que falavam, não era a Summer mas era a Winter que andavam pelo ar. Não faz mal, o que foi importante nessa noite é que ficaram amigos para sempre...

Neste mundo líquido da modernidade, a Second Life é talvez dos espaços mais fascinantes para gente como eu que sempre se deliciou com a Banda Dessenhada e não perdia uma nova aventura do Fantasma ou do Mandrake esperando veleiros perdidos.
Aqui ... e voltando sempre ao António Maria Lisboa e aos seus companheiros de viagem da aventura surrealista que já conheciam a existência do metaverso, "tudo é possível até a nossa própria vida".